sábado, novembro 21, 2015

De represas e dinheiro,
um Belo Monte construído.
Mortos. Povos em tragédia,
sufocamentos.

Crianças e muitos outros
mortos, gases
nas câmaras de Auschwitz.
Numa promessa enganadora de livramento.

Um trauma de presente.
Ave Maria
cheia de graça,
rogai por nós
na hora de nossa morte.

A história é o espelhamento.
A ventura de viver é o agora.

Poupa-nos à eternidade sem desalento.
OS MORTOS DE AUSCHWITZ VIVEM - NUM MONUMENTO.
AS VIDAS EM BELO MONTE ESTÃO MORRENDO - BARRADAS.

AVE MARIA! ROGAI POR NOSSAS MEMÓRIAS - AGORA E NA HORA DE NOSSA MORTE.
Não conseguiu fazê-lo feliz,
Nem quis petrificar
Mas flores presenteavam
O passado.
Não descobriu como ser,
Nem trouxe nada pra brincar
Mas cores borbulhavam
A seu lado.
Não entendeu o que deveria,
Nem enxergou o que tinha ali
Mas o sal da tarde
Arde os olhos.
Não engoliu as mentiras,
Nem as quis escutar
Mas subitamente ferida
Calou o batom.
-
Não arrumou desculpas,
Nem pensou em voltar
Mas só, sente profunda

A distância e o pesar.
Uma costura
Cinza e áspera
raspa a mão.
Melodias e
trabalhos inteligentes
e melodias:
 cargas cotidianas.
Sabe,
É como tem sido,
Difícil e emaranhado
O prolongar das horas nas minhas costas.
As eras da sabedoria em árvores rosas
E mangueiras.
Das paineiras, flores aveludadas e
o tronco espinhento
protegem minha casa.
Naturais fibras amareladas
Circundam o morro todo.
O terreno aspira ao sagrado,
Maturando à base de rezas
E chibatadas.
A transcendência como um fardo
Necessário às passadas
De um cavalo
Do deslumbramento.
Associações circunstanciais
Voam como borboletas:

Não tem peso algum o pensamento.
Subiu aos céus e está sentado à direita de deus.
Brilha com as estrelas - guardemos a urna do pó do cosmo.
Fogueira à beira do Ganges descansa em paz.
Tudo se transforma e me lavarei nas águas de teus restos.
A carne em larvas e coroas de flores em teu buraco.
A pele em podre e eu te como: necrófilo:
tua força em meu estômago.
Deitado na terra virás árvore.
Teu destino é seres outros animais - estar sempre presente.
Inesgotável, não padeces e jamais somes - tudo se transforma.
Hades recepciona defuntos no leito d’águas negras.
O espírito vagueia manifesto ao redor das casas.

A vida anuncia-se queixosa: os deuses (imortais) voltarão.
TE COMO A PELE
Porque estás morta;
NECROFILIAS
Filas de restos;
RUBRA FOME
Comida rosa-sangue;
PÚTREFA CARNE
Que renasce na minha víscera;
VÍSCERAS
Retorcidas de minhas fomes;
EPIDERME
Dá-me sustento;
E EU TE
Tenho aqui agora;
COMO PELE
Pelos pelos
Começo a superfície;
O PODRE E EU
Nos encontramos na mesa;
ENGOLÊNCIAS

São essas que escorrem goela à baixo.
Foi um sonho
delirante
na nuvem matinal.
Fui engolido
pela viagem.
Revisitei-me entre 
Arbustos-entranhas.
Estilos escondem
meu traço anônimo
que ficou de rastro
Pelo caminho?
Esse calor
De tuas gotas
Que o corpo dessas pernas tem.
Esse silêncio estranho
Enrolado no verbo.
E na saliva das línguas.
Algumas palavras
Pedem por cuidado
Ao serem ditas.
Aprofundam-se na garganta.
Parabéns por conseguir.
Obrigado por tentar.
Bom dia.

domingo, novembro 15, 2015

Lista de Monumentos Destruídos



I. Zoroastro.

II. Zodíacos cotidianos.

III. Xingu.

IV. Utopias.

V. Uma torre de porcelana.

VI. Um monge queimando.

VII. Um fato memorável.

VIII. Um busto de Luiz Gonzaga.

IX. Um brilho etéreo.

X. Titanic.

XI. Timbuktu, a “Cidade dos 333 Santos”, no Mali.

XII. Teu corpo.

XIII. Teu corpo.

XIV. Templos do Nepal.

XV. Tecelagem.

XVI. Teares.

XVII. Swayambhunath, o templo do macaco e os olhos do Buda.

XVIII. Stadplatz.

XIX. Sequoias.

XX. São alertas monumentosos.

XXI. Ruínas e devastação.

XXII. Prainha.

XXIII. Pau-brasil.

XXIV. Patrimônio mundial da humanidade.

XXV. Paris is burning.

XXVI. Palmira explodida.

XXVII. Palestina.

XXVIII. Pai.

XXIX. Os velhos.

XXX. Os sambaquis do Equinócio.

XXXI. Os ritos.

XXXII. Os passos de Roma.

XXXIII. Os pássaros.

XXXIV. Os parques.

XXXV. Os morros.

XXXVI. Os mitos.

XXXVII. Os jazigos.

XXXVIII. Os índios do Brasil.

XXXIX. Os deuses.

XL. Os corpos.

XLI. Os cantos.

XLII. Os Budas na rocha de Bamiyan.

XLIII. Os artigos.

XLIV. Obras de arte.

XLV. Objetos religiosos.

XLVI. Objeto obsoleto.

XLVII. O sexo.

XLVIII. O saci.

XLIX. O palácio de verão na China.

L. O ópio.

LI. O oceano imenso.

LII. O mercado público.

LIII. O mausoléu.

LIV. O boto sedutor.

LV. O antigo Beirut.

LVI. O ancião.

LVII. Nórdicos.

LVIII. Nimrud em pó.

LIX. Museus.

LX. Monges afogados.

LXI. Meu corpo.

LXII. Mesquita.

LXIII. Mesquita de Samarra.

LXIV. Masculino. Feminino.

LXV. Mares que nunca visitei.

LXVI. Majestosas tumbas.

LXVII. Mãe.

LXVIII. Macuca.

LXIX. Líbano.

LXX. Latinos.

LXXI. Jardim, quem tem tempo pra ele?

LXXII. Iraque.

LXXIII. Indústrias.

LXXIV. Indianos.

LXXV. Igrejas góticas.

LXXVI. Igrejas de Cristo.

LXXVII. Hospitais psiquiátricos.

LXXVIII. Gregos.

LXXIX. Gêneros.

LXXX. Gaza.

LXXXI. Frohsinn em chamas.

LXXXII. Flora.

LXXXIII. Filhos.

LXXXIV. Fauna.

LXXXV. Fábricas.

LXXXVI. Europa.

LXXXVII. Esta recordação.

LXXXVIII. Esta obra.

LXXXIX. Esta lembrança.

XC. Escolas sitiadas.

XCI. Eles serão destruídos.

XCII. Eles não se encerram.

XCIII. Egípcios.

XCIV. Durbar.

XCV. Doenças.

XCVI. Democracia implodida.

XCVII. Criança na beira do mar.

XCVIII. Crenças pessoais.

XCIX. Cavernas de ossos.

C. Cascudo enlameado.

CI. Carne.

CII. Bugreiros e suas orelhas Xoclengue.

CIII. Bósnia.

CIV. Bisnagas de linguiça.

CV. Bibliotecas.

CVI. Belo Monte.

CVII. Ave Maria.

CVIII. Auschwitz.

CIX. As pedras em Donna Emma.

CX. As línguas originais.

CXI. As fábulas.

CXII. As casas dos reis.

CXIII. As árvores em Santa Catarina.

CXIV. Arte sacra.

CXV. Araucárias.

CXVI. Árabes.

CXVII. Apameia, Cidade Tesouro.

CXVIII. Aos poucos, a Síria.

CXIX. Americanos.

CXX. Amazônia.

CXXI. Africanos.

CXXII. Afogamento Guarani-Kaiowá.

CXXIII. A vida eterna.

CXXIV. A Serra da Capivara.

CXXV. A sabedoria.

CXXVI. A ressurreição da carne.

CXXVII. A resistência.

CXXVIII. A rainha do mar.

CXXIX. A paz.

CXXX. A mata.

CXXXI. A infância.

CXXXII. A igreja católica.

CXXXIII. A Iara.

CXXXIV. A garrafa do leito no portão pela manhã.

CXXXV. A força.

CXXXVI. A curva do rio.

CXXXVII. A comunhão dos Santos.

CXXXVIII. A cidade às vezes.

CXXXIX. A água do Rio Doce.