domingo, novembro 30, 2008

A imensidão escura

Posso descarregar com milhões de palavras um só sentimento: o de sentir. O puro sentimento de sentir que eleva-me a reflexões que só eu, num dia distante, serei capaz de entender. E que este estenda-se até tua morada. Distante, como o dia do entendimento.
Sou capaz de ficar aqui, quieto, olhando-te, porque agora és o único desejo que sou capaz de esconder. Todos os outros são de um conhecimento quase público. E ao redor da desgraça, paira um ar desconhecido. Outrora até gostaria de ouvir tua voz novamente. Vozes têm sido o maior desafio de minha vida. E não restrinjo-me a ti. Restrinjo-me a qualquer vontade, a qualquer brotar de emoção. A qualquer jorrar de verdade que pode ser lágrima, escondida num bocejo, carinhoso, de sono.

Na noite que não acaba, eu aceno para o horizonte esperando uma resposta que talvez nunca venha.

sábado, novembro 29, 2008

Aos olhos que sempre se fecham

Penso em qualquer canção que defina nosso estigma. Não encontro, porque somos o estereótipo do indefínivel. E para o que não se define, usam-se palavras complicadas. Prefiro simplificar e retificar que despedir-se não é bravo diante de mim. É covarde dizer-me adeus antes do dia acabar. As coisas não podem mudar e não peço que mudem, elas sabem a hora de partir e quem sabe o momento não seja este. Não me peça, nunca, para parar.
Me diga, se o amor é mentira. Sei que é algo que fazemos, simplesmente por fazer.
Não aguento a pausa. A distância de tua voz, soando estranha perto da minha, faz com que as coisas pareçam estranhas.
Adoraria poder simplificar, sempre poder simplificar, mas todo sentimento sempre há de andar nos lados em que não posso estar. Torno-me incapaz de dizer o que sinto, agora.
Preciso ver-nos sentados em qualquer lugar, sujo por sinal, pra poder tomar uma dimensão, imprecisa como todas do que pode estar passando-se a frente.
Esses carros todos, tentam explicar o que aquela mulher, grande, disse sobre a forma. Mas esse movimento nojento, não explica a forma de nada. Só complica o desenrolar até o fim. Essa língua presa só guarda as lágrimas, gritantes, aqui dentro da minha garganta. A córnea infla-se e por pouco não vejo nada. Estou entrando no estado teu estado. De excitação ludibriada, prometendo os fins, sem nunca ter um começo. Sem jamais existir um momento, eu imagino que sempre beijo-te a testa. Já que em tamanho és menor, aproveito-me de tua grandeza para beijar-te como rebaixado. Ínfimo, coloco-me, sem olhos impecáveis ao teu lado. E minhas palavras, querida, não conseguem, jamais dizer nada, quando meus olhos vêem o sol se pondo em mais um dia em que sinto nosso casamento cada vez mais forte. Somos mais dois, que não precisamos de contato para existir. Tua matéria, por vezes, pontua as linhas do meu dia. Transfiguras imagens para minhas cenas, és tão tênue que te perdes na névoa dos meus sonhos. E nem em poesia, eu sou capaz de dizer-te algo.
Terás sempre alguém para te abraçar, mas sinto que, mesmo de longe, sou corajoso o suficiente para sentar-me em qualquer lado e ver-te feliz, de longe. Bebendo voluptuosos goles de mais um clichê, que podemos chamar de amor. Mas a ele eu dou a forma da morbidez. Do inexplicável, que se complica em pensamentos difíceis e intrincados.
Quando acostumo-me com as regras, entre elas a de te ver, fica difícil burlá-las e fingir que não estás mais por perto. A distância, quando não existe, é só uma desculpa que criamos junto com o tempo que não existe.
Torno-te atemporal na decadência de minha consciência.

quarta-feira, novembro 19, 2008

Da confusa, verdade

De costas para seu principal ouvinte, tinha um mundo vazio à sua frente: uma parede branca expressava a suficiência de seus anseios; e com voz cansada, pausada, de desabafo, jogou palavras quase coloridas. Criou um mural:

-Há de chegar o momento em que poderei pensar em ser e remetido a um vazio sem nome. O nome do vazio, posso enganar dizendo que estou com um pouco de fome. Mas minto, lindamente, enrolando minha língua dentro da boca para dizer com outras palavras que fiquei muito surpreso com aparições inesperadas. Às vezes finjo acreditar em fantasmas, e burlo a minha própria vida.
É a isso que dou o nome de vazio: ao ato de burlar-me. De olhar ao redor e não me enxergar mais. Chego a ponto de pensar que me burlar é perder minha pequena paz. Nesse inferno segregado por mim, não há mais ninguém. Nem eu, que de longe da velhice só me sinto, por inteiro, dono de uma supostas juventude.
É então que perco a órbita, tiro-a do ponto comum, meus olhos se arregalam.
Hoje, olhar para frente fora difícil, quase gritante. Meu olhar quase substituiu minha voz; às vezes é bem melhor ficar calado. Assim, afasto-me de redundâncias, e não repito as mesmas coisas, como de costume.
Estou cansando, fraquejando, enquanto caminho sem dar passos.
O barulho desse desabafo soma-se infernal a medida que me enlaço num auto-abraço.

domingo, novembro 09, 2008

Realidade [in]completa

Mas que coisa é essa de ficar sempre tão calado?, esperando minha volta no meio da noite? Pensas que sou a personificação do trair? Não, na realidade eu sou uma questão sem fim. Não é mesmo? Desafio-te a ir até o lado de fora. Ver a realidade. O seu surrealismo, ainda não saiu de casa, e não precisa de mais nada. A realidade está do lado de fora e o esconderijo é o avesso.

Beijo-te só com meus olhares e minha boca inunda-te de vontades. Desafio-te a sair de mim, a correr sozinho, achando que estás ao meu lado. Não olhes para trás. NÃO! NÃO! Proíbo que tua pele toque em qualquer outro que não o chão. Apenas permito um elemento, o ar, a sentir tua pele. Corres nu de teus princípios, porque sei que tens tudo sem eles. Sem esse medo que aprisiona-te e que nunca te deixa ver aonde andam os camuflados. Os inimigos não usam mais verde. O velório é a sensação do agora; preferimos parar; andar, e continuar dando a impressão de que estamos mortos. Nos ditados da ordem, a moda é o comando primordial da ascensão. Se não, teu futuro é infinita queda.

Desafio-te a respeitar as regras: sou a proposta paradoxal. Corras nu e respeite as regras. Ande na moda. Tuas roupas são teus conceitos, teus princípios começam sem respeito. As palavras devem ser milimetricamente previstas, é a exigência para uma possível admissão. O beijo é o sinal de aceitação. Meu olhar severo, certamente quer dizer que te ama.

Desafio-te a esquecer o futuro, a ignorar o passado e conviver com o presente na velocidade dos três tempos. Que teus irremediáveis atos tragam frutos de inverno. Faça, e pense. Pilares da liberté.
Coesão é para fracos. Estamos na era do conceito. Na era da inexatidão, da coragem. Andamos armados de insegurança. Nossa arma favorita é o medo, que deve apavorar qualquer um. O teu medo das coisas é teu meio de sobrevivência. A revisão é a covardia do ato.

sábado, novembro 01, 2008

Fraqueza exprimindo energia

O silêncio era o que trazia à mente tudo o que precisava, e ele havia começado antes de o barulho terminar:

-Para não dizer tudo de novo, é daqui que começo, do ponto de partida que é meu fôlego, agora preso pelo desejo de contar um segredo. Cada palavra que sai de minha boca, soa como um segredo que nunca disse nem pra mim mesmo, que só aconteceu, como a chuva pela manhã que apagou o sol e esfriou de novo minha face. Estou violentamente feliz, como alguém já disse antes- estou voltando às raízes do que penso que sou.
A cadeira ao meu lado me serve de palanque, e dali conquisto o mundo. A palavra é minha didatura sobre mim mesmo, ou o dono da verdade e da mentira que foge de minha boca; sou a impressão gélida de alguém nem tão triste, mas tão feliz. O som metálico que acompanha o ritmo frenético de minha fala não acelera, mantém-se o mesmo enquanto o tempo atinge velocidade suficiente pra fazer cada palavra ser dita em menos de um segundo. Ele é o limite entre os paralelos. E enquanto eu estiver aqui, esta é minha casa, minha nova percepção. A ousadia ilimitada, a pornografia poética que vive sob o mar.
Na idade do metal, onde o pós é o que denomina o agora, fico preso. Com as pernas formando um v. Sou uma ponte entre o passado e o futuro, um ato em construção de algumas vontades e um mural de lamúrias. Encontram-se alguns em meus ombros para dizer-me amores, outros batem em meus braços como se fossem o vento. E nem sempre me reconfortam.