quinta-feira, dezembro 03, 2009

Círculo



Naquela sala enorme, de portas amplas a um jardim verde e simples, mas etéreo, as palavras fluem. De uma cadeira confortável, onde a música tocável embala o pensamento à plenitude dos sentidos:


-Seria sábio de sua parte consagrar algumas horas do dia de hoje ao descanso de teus olhos sobre os meus, ao deleite de nossa união. Seria sábio de sua parte, jovem tolo, reconheceres a grandeza de tudo aquilo que nos rodeia, e por mais confuso que seja esse amor, nada te atrapalhe nos afazeres domésticos. Os teus desvios das tarefas não são erros, sentar-se e esperar as horas passarem, não são erros sem conserto, são apenas esses reflexos que tens, em atraso.


Pega a caneca com chocolate, acaricia-a de leve com a ponta dos dedos.


- Não é mais o mundo que irá te guiar depois que eu surgir, sabes disso. Sabes que o impacto que causo sobre teu corpo é mais forte do que teu espírito que julgas ser poderoso. Sabes da universalidade de meus gestos, e da supremacia de meus sentimentos sobre teu coração. E que presente mais glorioso do que a consciência de um sumo real. Não há. És o meu trunfo, assim como ainda sou o teu. E sempre hei de ser. Porque plenamente, em mim, reside o sentimento de tudo ao teu redor, torna-se palpável. E todas as palvras que digo, direcionam-me a ti. E o ciclo que isso exerce, me confunde, tornando o que somos, plurais e extremos, em um único prensado de tudo. Dos pensamentos que te fervem a cabeça, da moral que te espanta, da liberdade que te reprime, do amor que nos amedronta e nos assusta. 


Dobra os dedos da mão, enquanto encosta-os no joelho.


- E se a sabedoria é o estopim disso tudo, saiba que o amor é o fim. A explosão que nos corrói. A mensagem que sempre tentarás decifrar. Os motivos de uma trajetória são sempre os que julgamos bons, mesmo que não o sejam, e desta vez sabes que andar ao meu lado só pode guiar-nos ao entendimento mútuo e pra longe da solidão. Mesmo no vazio de nossas consolações, não estamos sós. Pois sabemos de nossos lugares, em nós.




Abraçam-se, beijam-se, com a esperança e vontade do para sempre, que os prende no medo do nunca.