domingo, janeiro 24, 2010

O vitral e as duas sombras

As coisas se passaram num curso que aos poucos se mostrava irrefreável, e o escuro veio demonstrar que os teus passos não são mais os que me seguiam. Eis que me entrego ao que posso sentir, e nesse vácuo pressiono-me em retorcidos movimentos de mim mesmo, resistindo perante a retrocesso. Todo processo de volta me coloca em repetição. Ao passo que me liberto sinto que atinjo o mesmo chão de outrora. E amargurado, o olho se fecha pra tentar ver mais oblíquo, mais certeiro. Erro a direção e vou atrás do lado que não quero.

Vejo de repente que não fui convidado a nada, mas ao mesmo tempo a minha compania torna-se último refúgio na hora de um maior aperto. A entrega aos sorrisos não me põe motivos para a dança, e as reações aos meus gritos, não me deixam entrar nessa janela...

Peguei o que restava da minha atenção, misturei ao teu escapismo e encontrei-me. Só, olhando pra trás e não vendo o sentido de nada; de nenhuma luz e de nenhum ruído, porque com tantos olhares e motivos que não eram meus também, não há modos de se atingir uma certa plenitude.

E quem já conhece o infinito, esforça-se por saciar na finitude os goles da anestesia suntuosa.

É uma proposta que não convence, um pedido que não se ganha.

Olhar pro lado, remete à uma distância que pede pela proximidade dos passos.
Afastar-se é benefício, quando penso que estou errado.

quinta-feira, janeiro 21, 2010

Descarrégo

Se ficasse um vestígio de doença ao teu redor, sinto que o eliminarias com a força de teu grito, pois a hostilidade que vos fala é  muito mais influente do que o choro que te circundas. Os ciúmes e as competições são exemplos de um comportamento bem comum. Mas a voz rouca, num momento que deveria ser pura, é inaceitável. Não dá pra compreender isso. Às vezes ficamos a pensas na improbabilidade das coisas e é óbvio que em nada chegamos. E não sou nada diferente. Prefiro descarregar em primeira pessoa do que me disfarçar em alguém diferente. É fato que as coisas não andam bem, mas não fazemos nada ao redor também. Se incluir altera os fatos, mas não a situação. A inclusão torna-se mais uma perspectiva dentro dessa chateação. Se não existissemos, há promessa de que serias melhor, mas ao passar do tempo que vejo que teu inimigosó te torna pior. E a fraqueza de cada uma das palavras espelha com exatidão a miséria de uma concepção. A vaguidão desta sala não tem dimensões pra calcular a vastidão dessa solidão.

quarta-feira, janeiro 20, 2010

À força

Subindo as escadas cheias de lama, depois de chuva torrencial ter caído sobre o rosto, de ter sentido chuva fina espetando a palma da mão; de sentir a água morna do banho, parecendo carinho que não existe, esvai-se em energias que desconhece. Entrega-se a cores que ainda não viu, que sente saudade de ver e a outras que queimam a casa inteira.


- Vontade de estar longe,  longe dessa cama, desse calor nas pernas, desse som de vento quente, dessa música monofônica, dessas pessoas, desse lugar. Desse bailado, desse trançado. Desse laranja. Vontade de cair de cabeça, no escuro e profundo. Sem definição para o que seja. Vai, atira logo. Não conseguiria. Me desculpe, o fluxo. É demais pra você aguentar sentir. A verdade tormenta. Tormenta.
-Lavar o rosto em meio à fumaça de plástico, continua deixando a pele suja. De futuro, de passado e de mim. Sujo de mim, enquanto não estiver prestes a aceitar que outro possa me sujar. Meus inimigos sempre foram eu mesmo, meu Diabo católico é meu amigo mais íntimo, meu ego espelhado. A ruína das sensações nasce da mais pura covardia em admitir meus próprios erros. E os dias se passam, e as palavras nunca bastam.

Uma pergunta no escuro, movimento invísivel

A percepção estende-se ao silêncio porque as perguntas levam ao questionamento de minhas próprias ações. É o mesmo que estar preso a própria cama, sendo atormentado pelos próprios sonhos. Não há saída mais cômoda do que o entorpecer-se de ruídos e buscar-se em canções que me identifiquem. Colocar-se dentro de um ritmo, mesmo que desconhecido, pra tecer no silêncio as sensações que ofertadas foram com movimentos. A dança é mesmo algo que surpreende, porque nos torna arredios, arrepios e livres de nós. Enquanto entrega, somos dançarinos infinitos. E quanto a sermos humanos,


Por que te bailas à humanidade?

terça-feira, janeiro 19, 2010

Ao grito de uma criança

A inconsistência do que consideras maduro ou não, ainda não se relaciona com quantos passos destes até agora. Por isso respeito a precariedade de teus muscúlos, que quando aperto, sinto torcer. Porque sei que ao passo que alguma dor é provocada, dilacera-se algo a mais, que seria impossível entender, salvo o elo que temos, inquebrável. A ciência das coisas desliga-nos, mas a misticidade delas é o que nos mantém sempre próximos.


Estamos aqui, conectados por aquilo que desconhecemos, sempre.

Do que a varanda me diz

-Das coisas fáceis que eu havia imaginado, nenhuma incluía pensar a respeito da indecisão. Que por mais complicada que vos pareça, acrescenta-me à ausência de mim. O quanto daquilo que se perde, pode ser o que se gaha. Os riscos de um jogo receoso, em que as minúcias são pontos na construção de um desejo, mas nunca trunfos no instante de uma conquista. As coisas tem a mania de se enganar e por isso, provam-se cada vez menos do que são. O escuro, profundo, tem dominado a mente desse lugar, que ainda ouso dizer meu. É preciso clarear as coisas pra vê-las melhor.

Com a cabeça inclinada de razão, fica mais complicado argumentar as facilidades de um porquê:

- De certa forma, eu estava aqui deitado no gramado, olhando o céu pensando nas coisas: até que aparecestes e distraístes o meu foco. Perdi o tato, por buscá-lo onde não podia lhe alcançar, e nesse fluxo irrefreável de observar o que há para ser observado, quis o toque. A malícia do sentido engana-me por mostrar algum tipo de certeza que eu desconheço. E quando tudo estava ficando denso, apareceu algo com ares de cumprimento. O que eu há pouco tempo não tinha, tornou-se o que eu sempre esperei.

domingo, janeiro 17, 2010

Me fale

Que os dias não se perdem assim, diante daquilo que lhe pedi, que tinha a ver com acreditar no que eu digo. Mesmo que eu nao tenha fé em mim mesmo, aqueles sentimentos cravam-se na minha pele.A longa solidão que nos distancia já não é mais motivo.
Saia desse lugar, o som das folhas no parque é muito atrativo do que esse som que sai da máquina.
As vozes da máquina completam, um pouco,  uma solidão.
Esperava que as coisas acontecessem de forma um pouco mais branda, mas a vista arrebata, distorce os sentidos. E eu fico pensando se dominar as coisas transforma-as em algo positivamente humano. Sendo que compreende-se que o comportamento de sua mão, frenético, quer dizer algo sobre quem somos.

Mostre alguma coisa, enquanto eu ainda não encontro o sentido. O sentido de uma direção em que eu possa acreditar. Não me tire desse lugar, não tenha a coragem que eu tive. De sair, sair para dentro de si e se esconder num silencio. Um silencio sincero, mas sempre silencio...


Até lhe deixaria abrir a porta de novo, mas ja escureceu, vejo somente o clarão das idéias. A hora de partir, perdestes. Então fique fora, porque dentro não podemos nunca nos unir.


Nunca é um ruído que certamente nunca compreenderemos, assim como a nós mesmos. Então dançamos e nos entregamos ao banhar-se de nossa própria água. Tornamo-nos, sozinhos, perfume, roupagem e sensação.


É cada vez mais possível acreditar que somos um universo de um só.
E que o redor, são as nossas estrelas. E a covardia de dizer de verdade, que a paixão é fogo que arrebata. Não o canto úmido de uma sereia. Que refresca. Esse canto, é o que mantém o olhar preso. Mas o que arrebata é esse fogo, que parte do mais profundo jazigo, escondido em algum canto desse universo, que eu palpitaria, saltitando, em dizer: coração.