sexta-feira, maio 07, 2010

Dos poucos aos fundos

O que era antes confissão, agora são tons de uma conversa, que se inicia em ponteiros zerados e ruma em direção ao silêncio. O que antes era desabafo, agora concreta-se em suspiro de esperança, porque começa a fazer sentido notável que as falhas, são alicerces para um acerto. E nesse diálogo, que desenrola-se mudo, as situações transformam-se em coisas e criam forma. Forma que fala, que direciona, dá sentido.

E nesse sentido cravado nas ranhuras é onde eu encontro a fala de um sonho que ainda não morreu, porque se a fome matasse os meus problemas, os sonhos famintos por uma lembrança remeteriam tudo a um passado ideal, onde as falhas podem ser todas corrigidas, e a morte não ronda. Não faz escala e não cria problemas. Não a morte da carne, mas essa morte diária e constante de si mesmo, de tudo que dá tom, som, cor, forma e peso às coisas. Essa matança é naturalmente interminável, e nesse ciclo encontra-se o sentido pleno pra entender que quão mais cru estamos beira a essas razões, as coisas mantém-se como são. E não saem correndo por aí, esquecendo da gente.

Uma grande falha são todas as luzes vermelhas que indicam um perigo que muita gente ainda não conhece por ver glória. É o perigo do progresso, que forma uma fila gigante e sinuosa, seduzindo a quem vier ver. Em certos momentos, a fila vira cobra e toma movimento, mas nesses mesmos horários, todos os dias, se ficar observando, é possível ver ela rastejando a frente, rumo ao descanso, ou acaso. Insignificados sem sentido incondizentes deploravelmente ligados por incongruências de medidas pueris de desvios do descaso. E nisso tudo, as coisas beiram.

E os bafos que ardiam dentro da boca, agora criam sons e isso dá fome de novo, pra continuar a comer, sempre que preciso, enquanto tudo não for confissão e segredo.

quinta-feira, maio 06, 2010

A resposta (espaço) pra pessoa (espaço)

Nota-se um costume malvado, todos os dias, de apontar. Os dedos, ou até o olhar, e isso incomoda. Apontar as lanças pra cravar no peito, que não lhe pertence. Apontar o gumo pra cortar mais fundo que em si mesmo;

Perde-se a noção de olhar pra dentro, de ver que o valeria a pena, às vezes nem sempre é o que de fato dá rumo as coisas. As escolhas formam-se desse fluxo-refluxo, grito surdo. O sim antecede o não, e as coisas se dissipam diante dos meus olhos, porque toda vez que penso nos teus, que logo pela manhã de hoje vi na face de um estranho, a tez que agora parece suave, mostra-se verdadeira, e derrete em preocupação e lamento.
Não me perdi no caminho, porque ele nunca existiu mas o chão ainda é parte do meu rosto, e quando olho, tudo que vejo é superior a mim. Não há como disfarçar que algumas palavras já tornaram-se uma reverberação no pleno vazio e que a configuração de ti é ausência em mim. Não há mais a ação do momento, nem o toque nos sentidos, logo não sabemos nunca do que falamos, e caímos nesse jogo agudo. De indicar o que há cá e acolá.

Botar fogo no chão da rua destruiria todos os nossos caminhos, e não há mais nada que eu possa fazer a não ser permitir que faças que o bem entendas, e que sigas nesses dizeres de interrupção de si mesmo. Ao passo que te interrompes, nos proíbe de seguir e nessa pausa o que vemos é que nada mais faz sentido já que a ...


Essas pausas no tempo dão a garantia de que a vida se preserva em algum lugar por aí. E que às vezes é melhor esquecer algumas palavras que poderiam com certeza virar fardos num caminho estreito que com certeza há de surgir.

E nesses apontamentos todos, no meio deles, parado no auto da rua, tem um espelho.


terça-feira, maio 04, 2010

Do que podemos ser em prazer, de ser cruel

Hoje quero falar de uma intensidade impessoal, que surge na mediocridade simples de uma conversa.
Quando penso em coisas que me trazem ao encontro de mim mesmo, é como se esse sol forte que encerra o dia penetrasse no meu olho pra clarear tudo, deixar essa luz batendo no azul, cada vez mais claro, cada  vez mais agudo. essas ranhuras todas são uma verdade bem crua, bem limpa, que toca e purifica os sons e tons dessa esquina suja, canteiro de lixo.

Enquanto a luz vai embora, meu corpo se joga com agonia prazerosa dentro dessa leitura de si mesmo. O corpo que se vê transporta-se para o corpo que sente e o sentido se encontra no pulsar de um semi-abraço, agradecido sem palavras. Quando a necessidade de uma meia-palavra existe nessas bocas que sempre querem falar, mas que dificilmente o conseguem, é um êxito gigante. Saber que é possível conversar por essas entrelinhas. O que se empurra é que o se diz, e tudo que eu poderia desejar fica resguardado pro aguardo de um depois. Depois do instante que o ônibus fizer a esquina e eu ainda estiver devaneando sobre o clarão das nuvens, projetado pelo sol. Ou o da pele clara, abaixada no chão, perto do espelho, que me remete a ver os dois lados de um vazio. A sala, e uma espera constante, tortuosa.

Busco na minha mente, uma forma mais simples de poder dizer que o que me inspira nem sempre é o que nos toca, mas que a parte boa disso tudo, dessa informalidade-formal, é saber que nos fins parecem que os percalços todos nos levaram pra uma mesma direção, onde o momento de esclarecimento se dá quando dizemos que nos bastamos nessa luz que nos afasta. Se pensarmos mais a fundo, acho que nos veríamos de fato numa luz-sombra, porque ambas são alentos de um distúrbio que não se diz por si só. É um distúrbio discursivo, falado, e entregue aos prazeres de sua própria dor. Esse é o supra-sumo daquilo que encontramos em nossas capacidades. Tanto as da fala, quando do olhar. É nesses momentos de desprendimento que nos encontramos agarrados a nós mesmos. E isso que fortalece, a cada dia, pra poder seguir em frente.



E nesse tapa-carinhoso, deixo-me esvair pela fumaça que ficou na rua, entrecortada por esses raios de sol que vão encerrando o dia.