quarta-feira, julho 30, 2008

Reproduzindo a interrogação

Assim, no meio do nada, andava como que sem rumo; desajeitado, sem camisa e com uma pequena página em branco na mão. E mais uma fórmula na cabeça.
De como falar sem ficar tonto o que consumia suas vontades e doí-lha a cabeça agudamente.
Sentou-se, olhou ao lado, recostado em um muro salpicado, fechou os olhos e suspirou: "Ah..."
Sua mente, um poço interminável e vazio, hoje projeta-se palpável às suas compreensões e acelera o ritmo, costumeiro caramujo, de seu coração.
Perguntou-se...

se o lado oposto de si era realmente ele mesmo. Viu de soslaio sua sombra passar no chão lentamente como se nada estivesse rondando os seus pensamentos. Quem se move é o mundo e ele é um pequeno espectador; de pé em qualquer ponto do cenário que é o vazio dos olhos fechados.
A realidade devastadora ficou do lado de fora de suas pálbebras, continuando com seu fluxo lento pela natureza e acelerado pelos homens. E ele, sentado enconstado no muro salpicado, não sente a dorzinha leve que atormenta suas costas cansadas de um dia que mal começou e já o cansara por demasiado.
Com a luz vespertina, mesmo que queira, não consegue disfarçar os ruídos, gravíssimos!, de seus traços da pele. Sôfrega, jovem e ritmada, sua boquinha fechada mantém intacta a jovialidade de seu precoce dono - que pena que pena que este homem-menino disfarça tão bem a grandeza de seu estado num descanso anônimo pelos cantos do centro da cidade.

sábado, julho 26, 2008

De carne e osso

O vazio de seu organizado quarto demonstra que o tempo ocioso passou. Ocupando-se esquece de ninharias como a cama com cheiro de corpo e as mudas desorganizadas pelo assoalho. A limpeza esconde a sujeira de seu habitante. Ele é um homem como qualquer outro. Os pêlos já se espalharam pelo corpo, a voz tornou-se austera e ríspida o suficiente e seu olhar já é capaz de congelar passos. É maduro, perto de ser podre.

Acostumado a olhar somente o horror, porque o tempo vzio não o dominava, era iludido pelas curvas artificias que exibiam-se no quadrado de vidro. Com o acúmulo de tarefas não havia minuto para silêncio. E agora que há, tranca-se no quarto e vê tudo. Novo. A morada não precisa de baderna para ser rebelde. Ele de veludo e seda é rebelde. Seus lábios de tão grossos aparentam estar junto o tempo todo; até mesmo quando grita parece estar calmamente falando.

Com os olhos fechados constrói corpos admiráveis, mundos perfeitos, pessoas incomuns e revoltas; no fundo, por mais belo, ele é a paisagem do pandemônio. É o paradoxo do equilíbrio.
Até mesmo seu corpo, por inteiro sozinho, diante de outro não acalma. Ele gera a violência sem pressa, tornando-se alvo de vontade que só o corpo sacia.
O tempo vazio em seu mundo conseguiu transformá-lo num agridoce inconfundível, que desperta felicidade e logo em seguida acorda a amargura.
Ele transformou-se, novamente, em homem

A velocidade do desejo

Sentada consigo mesma consegue perceber a beleza sutil dos transeuntes. Não deseja deitar-se com este ou aquele. Na sua cama encontra todo o desejo que procura e no seu ninho habita o sexo que almeja. E o amor que a segura.
Num compasso acelerado seu coração bate, pois fora árduo o dia e a noite vinha calma do horizonte para esconder a pureza simples da natureza. Com calma ajeitava seus cabelos porque o penteado à noite precisa mostrar o animal que dentro dela está. Ela tem uma criatura irracional guardada no peito. E os cabelos que exibe durante o dia ofuscam e abafam o que se esconde.
Por um breve momento seus olhos encontram outros tão negros quanto os seus. Seus pêlos arrepiam-se.
Ela olhava-a, de pé, do outro lado do ponto onde a mulher que acabara de surgir, a da noite. Houve intenso olhar. Havia um flerte que jamais haveria no costume monótono da tradição.
Ela, sentada, não conseguia procurar outra paisagem senão aquele lago escuro, profundo, sem fim. Levantou-se e foi em direção do novo, esquecendo-se do amor que te em sua cama e do corpo que sempre pode usar.
Ela quer algo igual, não diferente. Quer aspectos gêmeos. Quer algo novo. Não ama; quer provar. E com todo o calor que há em seu colo fugindo do corte suave da seda decotada, dá alguns passos, aproxima-se e.



-Oi...

quinta-feira, julho 10, 2008

Pausa para interrogação

Assim, no meio do nada, andava como que sem rumo; desajeitado, sem camisa e com uma pequena página em branco na mão. E mais uma fórmula na cabeça.
De como falar sem ficar tonto o que consumia suas vontades e doí-lha a cabeça agudamente.
Sentou-se, olhou ao lado, recostado em um muro salpicado, fechou os olhos e suspirou: "Ah..."
Sua mente, um poço interminável e vazio, hoje projeta-se palpável às suas compreensões e acelera o ritmo, costumeiro caramujo, de seu coração.
Perguntou-se...