sábado, setembro 27, 2008

Sense in the meaningless



"Do mesmo modo em que a chuva está a cair, os raios do sol me batem: com leveza no chão, e na superfície áspera de minha pele. O que vai, hoje não é o que fica e os ruídos das buzinas ornamentam invisivelmente meu dia. A terra é uma bola, magnética e sem fios. Os fios são os homens, que se sustentam sensivelmente; sempre precisando de uma linha tênue. A cesta que orbita é uma antena, que serve de berço. Berço em que me deito e durmo, sabendo que há quem olhe por mim de verdade. Metrópoles se formam em meu peito, permitindo a forma da fala estampada nos muros e nos cartazes das ruas. Tudo ferro, tudo propaganda. Modelos no sopé e no topo da montanha, tecidos voando no vazio do tempo e do espaço. A infinidade ínfima de nós. O tempo famoso que esvai com as cinzas do defunto. O homem-máquina, traduzido em todos os setores do corpo. A mecanização da alma, a morte do sentimento acontece em mim porque sentir faz bem à saúde, e queremos todos, bichos, tê-la em abundância, tentando enganar a morte. Metal batendo de leve na minha boca, pesando minhas orelhas. Estou aqui, exposto à atividade porque ela me obriga. Ela disse que verei-a de novo, e estarei na Magazine. A música não sai mais da minha voz, sai da minha cabeça e entra no rádio, diretamente, sem passar pelo meu coração e deixando meus braços leves, sem ter o que bater".

(Gran Colosso)

No campo tão verde, que contrasta com a hélices de energia seu vestido amarelo com de flor dança, desperta a alma que mora. Tão leve, seus olhos azuis parecem pequenas luzes que refletem o panorama indizível à sua frente. Ela ama, de soslaio, o mundo que não conhece e gosta como se não fosse sua casa. De menina aprendeu a desgostar do que era seu, já que admirava tão fielmente as outras garotas. "eu quero viver tudo fora de mim antes que o tempo passe e me prenda em minha própria eternidade".

quinta-feira, setembro 18, 2008

Manifesto, ou A chaga que nunca se cura


Como deveria começar a viver, se o silêncio da madrugada não o impulsionava ao mundo, mas sim, o trancafiava cada vez mais em seu quarto? Que questionamento vago diante da saudade.

- Não estou aqui; hoje sozinho, diante desta pequena luz, para celebrar em mim os dias de glória. Os dias próximos do fim. Não queira entender nada do que disse, já que sabes que o que digo jamais é o que interessa. Sou apenas um bobo enclausurado; atirado ao fardo... De encontrar em mim o coração.
- O coração que parece fugir toda vez que se aproxima e que não deixa espaço para outro desejo: o coração é o objetivo de minha vida. E posso estar há horas andando, pois meus pés ainda não cansaram. Não me canso de correr atrás, e esconder-me, do que quero. É o suor do perigo que me põe a arriscar e é a ele que dôo a culpa da falta de meu fôlego.
- Na distância não ouço o palpitar de teu coração, assim como ouço, quase nada, o meu. Acordei hoje e não tenho vontade de dormir. Dormir para mim seria como morrer e hoje estou vivendo demais parar morrer em um mundo em que ninguém dorme.
- Parece que ainda não me banhei; ainda sinto o suor pastoso e o cheiro forte de minha pele; que não me reconheço em mim. Costumava ser mais Narciso, parecia que tinha muito que esconder.
- No canto do conto e canto. O ritmo de minha fala quer compor melodia.
- Tenho dois pequenos tesouros, que dormem, atrás da parede ao lado; um velho que dorme. E abaixo talvez habite o motivo do meu ser. Não seria eu se não me pegassem na hora da divisão. Comecei num divisor de águas e deixo tudo explícito; como meus pêlos arrepiados num banho de água gelada.
- Qual a minha pergunta? Ante o quê fico de sobreaviso à máscara? Falso falso falso falso falso. É o que sou. Tudo até hoje pode ter sido pura mentira, a mentira mais bem interpretada do homem. O que faço, só homem, em seu traje noturno, é capaz de fazer. Deixo minha esperança registrada no som seco, quase surdo, de um tapa. Meu tapa, minha verdade; sem flagelo, preciso de Realidade.
- Realidade esta que me mata. Cada segundo é consumidor de meu vazio, de mim e da primeira pessoa. Odeio-a. Quero acabar com ela. A intenção é suicídio, fim do ego. Tudo, com a força simples das palavras. Com o movimento de minha boca: quero destruir o ego. É a partir daí que começo.
- Destruindo, despindo e raspando; um mundo novo começa. Desesperançoso em relação ao Um, mas ansioso com o conjunto. Estou aqui sem utopias, sem comunistas e que morramos anarquistas. Venho começar, diante do mundo, a negação de meu corpo. Renego-me. Depois me construo longe de bandeiras e, quem sabe, perto do espírito. Mas nunca longe da instituição.
- Amor, fraternidade, espírito, ódio, individualidade, vazio. Instituições que giram em torno de outras e estou no meio (do escuro estão meus olhos e vejo: nada). O nada é a instituição do absurdo. A profundeza do humano: absurdo. À clareza do absurdo: nada. A mudança deste mundo?: absurdo. Eu esperando quê?: nada. Perdi na igreja a fé no Absoluto, beijei no vento o aroma do novo; senti vários perfumes e não me iludi com o aroma do Paraíso. Beirando convulsão, aceitaria provocar os teus títulos.
- Primeira e segunda pessoa: duelo sem fim. O paradoxo é interminável; quando falo de ti, entro em mim e esqueço que nós estamos preenchendo Eles. Meus braços tremem como todos os fundamentos que rompem-se com as novas certezas. As novas certezas da indiferença. E que não seja só humana! Dentro de cada homem habita algo mais, uma outra instituição.
- No meio de tantas cores, não escolho nenhuma; sou como tu, e preferimos não ver. Veja que nossos olhos se fecham. Impossível ver de olhos fechados? Pois que sintas para onde caminhamos: para um fim sem previsão, que talvez não seja fim. Estou desvencilhando-me de mim e deixarei a culpa ao lado de tua cama a culpa de minha existência. É esse o fim de mim. Matei meu ego.

Foi a palavra mais difícil de se escrever. A ele é a mais intrínseca. O verbete que nunca diz.

domingo, setembro 14, 2008

Jogando etc

"A música de maquinário torna perfeita a trilha angustiada por onde meu corpo se faz ir a frente. A pedante forma das avenidas faz-me querer voltar. É o vento de novo despertando a sensação fria, que o sol parece perder o poder de esquentar. Renasce em mim até mesmo aquilo que não morre, porque pode ir e vir, ser e ficar; o coração dói, bate devagar".
(Gran Colosso)

E neste ritmo vazio, sigo como se os dias continuassem os mesmos dentro de sua mudança. Extensa mudança. Depois de enxergar através da cegueira, tive cheia de dor a cabeça e lotado de algo o espírito. A descrença no desconhecido transfere-se à uma nova visão, lúcida, que monta-se majestosa em mente como lirismo, expressão de arte.

Muitos olhares de l(i)(u)xo por trás e um ambiente milimetricamente gritante. Pedindo por socorro!
Da diversidade, da mudança, e do autônomo.
Transexual, assexual, bissexual.
Me vesti, cortei e amarrei. Fui ao lado, olhei-me de novo e parei. Em frente a porta, duas passarelas, entrei.


"E com marcas na pele mostro, que de leve, o mundo pode ser o lugar mais travestido do universo e que a consciência agrava-se no homem como em qualquer animal que pouco pensa. Mas ainda quero ver tudo e vestir. Peças de maquinário ritmando meus dias. Grande máquina, homem-humano. Poético animal. Terrorista. Abissal".
(Gran Colosso)