segunda-feira, janeiro 28, 2013

Um isqueiro verde
eu sou.
Chama crescente
pequena lampejante
eu vou.
Viver a dura experiência
quente queimar e sobreviver,
é amadurecer.
E logo amarrar-me e depois deixar-me. De charme. Ai, tão distante que nada exprime além do pesar que se dá certo quando falta palavra da ordem simples ou da ordem plena que me diga, sei lá, "a vida é uma grande ilusão", o seguinte: não se tem problema. O transeunte aumenta tudo daquilo que ele próprio inventa e daí o desgraçado, eu menor, pequenino, se arregaça na discrepância de amargura e não encontra fundura que o esconda no chão. Fundura de cabeça de avestruz.
E disso emaranhado de palavras nasce o alento de esquecer-bicho que solenemente impresso nas coisas-almas que escapam de meu ser. E transitam como moscas as palavras (de borboletas só cuidam as belas), sujas amontoadas e entoadas pelo hino automático uníssono ZZZZZMMMM das asas de confirmar; e até ali de novo, depois que cagam e botam ovo, a vida troca e vai. Devagar.
Da mosca de volta pra palavra, quem ficou vivo mais tempo?

quinta-feira, janeiro 24, 2013

Elo

O tempo da emoção
não tem com o relógio
a mínima devoção,
então meu elogio:

À verdade pura,
veredas transformadas.
E minh'alma então segura
pra não pensar velhas jornadas.

Poucos despertam o valorar
o teor, sumo dos sentidos.
Na vida, aprender a amar:
incumbência a Poucos cupidos.

E ali me vou, ocupado
numa primeva busca
de um calor apaixonado-
brihante, que nada ofusca.
Apesar dos pesares, apesar de tanto tempo, de pouco fosse todo em partes, desfigurando-se de um íntimo pensamento.

Um silencioso.

Um não poema,
um pouco vazio.
Um cem palavras,
um estado doido,
um dolor que só.
Um sozinho de pé
um sentado fincado
um eu ao chão.

quarta-feira, janeiro 16, 2013

Soltar-se ao chão sob os trilhos do trem-tempo corredor incansável e cair-se e de todo doer-se. Sentir-se pulsante jorrando, e vivendo o sangue que escorre enquanto ali estás, lento. Vagoroso teu olhar acompanha o distanciar do trem-tempo. Alguém ficou para trás, dos extremos. Na singularidade tudo que há é um seguir, sem definidas diferenciadas direções. Cair-se do inerte trem e caminhar nos trilhos. Andar sobre si e reconhecer os pés. O trilho é o verbo objetado, o trem o desejo que, tão rápido, se perde. A busca não é uma personagem, só o sentir. Porque todo ralado da queda o corpo ainda pulsa. E pulsará depois, ademais. Nessa verve habita um torpor em repetir-se porque logo em seguida, um trem. O tempo. Embarque-se abarcado consigo e feridas nos já então pés, e depois dessa deixa digna de doido ou duque do trilho, tente trazer-se. Exteriorizar-se e, na viagem, esquecer-se.
Nem mais um minuto
dessa espera deve durar,
porque fico de todo diminuto,
parecendo que vivo a sonhar.

Aconselham-me dar a corda,
ajustar o relógio do sentir.
Impedindo o sofrer que transborda
de meu peito fugir.

O que já foi não tem sido,
não hei de querer o agora, omisso.
Tão poucos és livro lido
e por tal fascínio, firmo compromisso.

A ideia fixa é pedra,
que estanca o sangue da ferida.
Agora me diga:
que paciência?
ao paciente
sem rim,
na fila da
emergência.
Sem fim.

Quase Beijo

Surpreso, disse que já sabia.
Confesso que menti.
Não pude notar, óbvio que virias,
e deu-se o que senti.

Indiossincrasia toda minha
eu quero te transformar.
Que à margem do rio não se caminha,
pois que tal navegar?

A luz que, isolada, nos reflete
sim, nos sugere um caminho
da vontade que nos acomete.

Em instantes próximos de distância,
some o frio de estar sozinho.
Fica na memória, de herança.
Maior que sofrer é amar
A dor desmedida.
Sugere-nos algo a encontrar
e mais, a dar partida.

E queremos o ser como quem não mente
Amar os lados todos dos dias,
Não esconder que o que se sente
é a lenha queimada das poesias.

Nessa carga intocável e pesada,
os ânimos suscitam a verve.
Se há mazela, está descontrolada
E anseio o bem para o qual serve.

Precisão

Como tudo, meu caro
Segredo se esvaiu.
Tornou a ser raro
E meu mundo caiu.

Algo alegre que seja
Maior que essa chama
Que ardente lampeja
Meu ser até na cama.

D'antes não havia sorriso,
Agora encontro motivo.
Pra ser, então, preciso
Não agir como um esquivo.

Mas ao amante não basta
Dar-se o tempo do além do agora
O relógio não se arrasta.
A decisão não quer demora.

Ponto de pausa

Depois da faxina ficou um horroroso cheiro doce, copiosamente atentando a Chanel nº5, só que com a leve capacidade de causar espirros arrepios. Mais do que outros aí. Pior do que uma referenciação assim é buscar ouvir antigas músicas, olhar as paredes e ver se as sonatas apaixonadas combinam em suas dimensões poéticas com as do quadrilátero aposento. Onde solitário, ouve-se o ranger desse metal de mesa que soma-se desarmonioso com velhos metais, nomes que desconheço. O sax, o trompete trombone etc. Que bom! ai que bom! O passado mais que correto e como sempre, deu de presente toda essa imensa celebração. Tudo cresce na saudade e as emoções viram possibilitadoras vontades do novo querer. Deixe-me ficar nos teus braços e mesmo não mais os mesmos, os novos. Neles que se quer viver, mas sempre há um porém a surgir no mar, um pulsante resplandecer de novas heranças melosas, melódicas. E nostálgicas se constroem as vidas somadas às lembranças de uns com outros e de uns sozinhos que se juntam e se despedaçam. Com pontos de pausa. Pelo. Caminho.
Meu pulsante
e desejoso
- o coração,
quer outro lugar
para forte bater
e abstrair-se
em ser menos meu.
Observante e vigoroso,
florescer.

quarta-feira, janeiro 02, 2013

Acabar-se tem com dar-se um começo. Encerrando um caminho é necessário abrir outro. Os carros não se param nem se podem bater. A carruagem dos dias é irrefreavelmente cruel. Embarque-se antes mesmo de reconhecer-se passageiro.
Tu não te partes,
porque inteiro
eu te sinto faltar.

Mas só a mim,
completo em si, sobro
sem um pedaço que
tu levastes.

Ainda reticente,
reconhecido presente
da sozinha quadra
por onde caminho.

Ah!, sem angústias
e por mais firmeza,
pairo num infinito
horizonte de incertezas.