Na realidade, não é nada disso; não quero entrar num tema de infernos. Acho que estou sentindo um ciúme que nunca havia sentido antes. Um ciúme que nasce na distância das falas e no desencontro. Um ciúme que deixei crescer e que alimentei. Porque a falta que me fazes torna-me infantil demais a ponto de não reconhecer que sentir ciúmes é comum. Não sei se arrancarei alguma coisa dessa sua alma crescida e forte (a minha continua pequena e frágil... digo sem dramas).
Mas na última noite, escrevi uma poesia, com letras de sonho. Dizia que eras a beleza em forma de gente e que o sonho nunca acabava. Não havia ritmo e rima, eu escrevia certo no vão da minha mente. Literatura inconsciente.
-Como as coisas podem ter ocorrido assim? Da forma mais mascarada possível?
-Eu sei falar sobre o que quisermos, a menos que queiras dormir.
A cama ainda cheirava a suor e teor embriagado da imagem de um quarto envelhecido pelas roupas de brechó e pelas mantas de carneiro que traziam para o vazio um pequeno alívio à respeito de sua condição.
As pernas jogadas para o alto reluziam fortemente, eram quase espelhos.
A boca não conhecia a ruína nem a miséria:
-- Ah, lindo dia hoje, não?